Eleições sinalizam que todos os caminhos levam à moderação política
Pleito de 2020 trouxe más notícias para os extremos, mostra reportagem da Veja.
VEJA
O caminho do meio
As eleições municipais trouxeram más notícias para os adeptos da política de ódio e de radicalismos. Mas, até agora, nenhum nome de centro tem projeção (e votos) para fazer frente a Jair Bolsonaro em 2022
Como é típico da política brasileira, Jair Bolsonaro esqueceu
rapidamente a promessa de que não se envolveria nas eleições municipais.
Usou as lives semanais para pedir votos e exibiu santinhos de
apadrinhados. Não adiantou: fez campanha para 59 candidatos e só dez
deles emplacaram. No balanço final do pleito, o bolsonarismo foi
derrotado onde o presidente assumiu um lado e mostrou pouca intensidade
ou influência em diversas praças. Seu inimigo número 1, o petismo, foi
ainda pior, passando por uma nova rodada de vexames.
O outrora todo-poderoso partido da esquerda, o PT, não comanda mais nenhuma prefeitura de capital brasileira. Enquanto as urnas castigaram os radicais, as siglas de centro saíram premiadas, com o controle de quase metade dos municípios do país. Mesmo tendo caído de 1 035 para 784 prefeituras, o MDB do ex-presidente Michel Temer continua sendo o maioral nessa área. Nas capitais, PSDB e DEM mostraram força, com quatro vitórias cada um, incluindo a do tucano Bruno Covas, em São Paulo, e a do democrata Eduardo Paes, no Rio — dois colégios eleitorais de peso que votaram contra um candidato da esquerda e contra um apoiado diretamente por Bolsonaro.
Numa eleição impactada pela pandemia e com as campanhas de rua
reduzidas, o eleitorado indicou, sim, estar farto de extremos — e menos
propenso a novidades. A “velha política”, calcada numa maior experiência
e capacidade de negociação, saiu fortalecida das urnas. A questão é
entender quanto esse fenômeno pode influenciar a eleição de 2022.
Pleitos municipais registram tendências que podem ser confirmadas dois
anos depois. Em 2000, o PT colheu diversas vitórias pelo país, inclusive
em São Paulo, com Marta Suplicy.
Em 2002, depois de várias tentativas frustradas, Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente. Em 2016, o eleitorado brasileiro deu demonstrações claras de que queria outsiders na política. Nessa toada, João Doria foi eleito na cidade de São Paulo e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte. No pleito seguinte, Jair Bolsonaro, que bradava contra tudo e contra todos, consagrou-se nas urnas. Esse movimento parece perder força agora. “Não foi um chamado à moderação, mas a clivagem antipetista e lavajatista arrefeceu”, pontua Lucas Martins Novaes, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
Leia mais em Veja.
ISTOÉ
Os extremos derretem
As forças lulistas e bolsonaristas que jogaram o País na polarização foram as grandes derrotadas nas urnas. Para sobreviver, terão de se reagrupar sob novas bandeiras e adotar táticas diferentes da intolerância e do populismo redentor
Ficou evidente, de maneira clara e simples, exposta em praça pública,
a derrota da antipolítica. Os extremistas terão de reinventar o
discurso, de se readaptar, buscar novas bandeiras. É um desafio e tanto,
caso queiram estar em linha com os anseios dos eleitores e com a pauta
propositiva que esses almejam. A polarização vazia foi jogada no espaço.
O presidente insano converteu-se em um ser quase contagioso. A rejeição
a suas práticas aumentou tanto que candidatos tiveram de se distanciar
dele para amealhar alguma chance.
Nas urnas, os jovens, em especial, manifestaram de forma eloquente o repúdio ao atual estado de política. Estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade, a igualdade de gênero e raça, a disparidade social, a inclusão econômica, tudo que pseudos salvadores da pátria — à esquerda e à direita — deixaram de lado em prol de projetos pessoais. Há, no momento, um mercado de votos diferente daquele encontrado dois anos atrás nas campanhas majoritárias para presidente. Ali valia, sim, a aventura de um ser endiabrado contra o sistema, um mal-ajambrado “mito” sem base municipalista, sem estrutura partidária, sem programa de gestão, sem nada que não o grito raivoso contra os erros então vigentes.
Passou o tempo, o berreiro ficou fora de época e nada de novo brotou
dali. Ao contrário. Quem assumiu o poder aprofundou deformidades e
carências. A bizarrice da radicalização, da antipolítica, da polarização
cansou. Restou meros lampejos de protestos dos insatisfeitos de sempre,
majoritariamente, esmagados. Soou risível a alegação de manipulação dos
resultados e a desconfiança do sistema eletrônico que há 20 anos
funciona sem incidentes.
Como atual força no comando, o bolsonarismo
abusou de casuísmos que não prosperaram. Ao o entrar de maneira
improvisada, não institucionalizada, muito menos orgânica, com base
personalista, na corrida perdeu feio e terá de se reagrupar em um
esforço hercúleo para a montagem de uma coalizão sustentável. O capitão
cloroquina precisa, de uma vez por todas, entender que na onda do eu
sozinho, do prestígio pessoal, sem partido, sem aliança, sem projeto,
não irá longe. A “nova política” que preconizou no início, com o Centrão
de muleta dos últimos tempos, está em exposição nos museus de
esquisitices. Um e outro, o Messias e o Centrão, fingem fidelidade e
tentam, na verdade, se engolir, numa autofagia geradora de monstrengos.
A
narrativa do descaso com a negociação, o diálogo, a estruturação de
projetos — todos assistem — está dando com “os burros n’água”. Venceu
quem fez mais e melhor em desafios concretos, tal qual o do combate à
pandemia. O extremismo de seitas vai perdendo força e espaço no
imaginário popular e ficou distante do modelo ideal. Meros referendos
para mais quatro anos dos atuais ocupantes do poder irão depender da
atuação e de resultados efetivos na gestão. Simples assim. Outsiders sem
planos já começam a ser vistos como fraudes e a lorota cede espaço à
economia, que ditará os humores futuros. Na bifurcação do certo e do
errado, em termos de solução para o País, encontra-se a chave para o
sucesso e mesmo os oponentes, desafiantes do capitão, terão de encontrar
a fórmula.
Não há, naturalmente, prognósticos certeiros, mas, a julgar pelas “prévias” municipais, dá para se perceber que o eleitor é capaz de fortes guinadas, repensando escolhas e difundindo, de forma contundente, outras prioridades. A isso se chama maturidade. O bolsonarismo e o lulismo foram massacrados no escrutínio, não há dúvida, por uma razão simples: não evoluíram, ficaram obsoletos. Há uma lição aos extremistas que fica da experiência recente: caso almejem algum êxito adiante, terão de entregar daqui para frente, um e outro, saídas viáveis, ideias estruturantes para um País que precisa retomar o desenvolvimento.
Leia mais em Istoé.ÉPOCA
Matar para viver
Os motivos e as aflições das mulheres que tiram a vida de seus agressores em legítima defesa
A assistente social Úrsula Francisco faz planos de cursar Direito, mas há pouco mais de dez anos ela quase integrou a estatística das mulheres que perdem a vida assassinadas por seus companheiros. Ela tentou construir uma família com o marido, que era policial militar na Baixada Fluminense. Casaram-se em 1998. Mas não demorou para que ele se mostrasse possessivo e violento. Ela contou que, para camuflar as agressões, ele colocava uma toalha de pano ao redor da mão antes de iniciar os espancamentos.
Em outras ocasiões, ligava música alta na casa para impedir que os vizinhos escutassem os gritos de Úrsula. Algumas vezes também pedia que a mulher tocasse piano para ele, depois de apanhar, para “acalmá-lo”. Úrsula disse ainda que ele a obrigava a sentar-se no portão de casa junto a ele e ao filho do casal, nos fins de tarde, posando para a rua como uma família unida, para que os vizinhos não desconfiassem das agressões. “Nenhuma vez eu registrei ocorrência. Ele dizia que se eu desse queixa ele ia me matar. Como ele era policial, eu não duvidava”, contou a assistente social, que hoje comanda um posto de saúde em Nova Iguaçu.
A agressividade escalou até se transformar em ameaças de morte. No fatídico dia 5 de fevereiro de 2008, durante uma discussão, o marido foi até o banheiro, onde guardava uma de suas pistolas. Ao vê-lo buscar a arma, Úrsula alcançou a segunda pistola do policial, que estava no quarto. Ele próprio a havia ensinado a atirar sob o pretexto de que a vida da família poderia um dia depender do uso da arma. “Tive poucos segundos para pensar. Eu sabia que era eu ou ele. Quando atirei eu perdi um pouco do raciocínio”, disse. O filho do casal, que estava fora de casa na hora do crime, chegou justamente quando a arma da mãe disparou.
Leia mais em Época.CARTA CAPITAL
Businessman
Sérgio Moro torna-se sócio de uma consultoria estadunidense que cuida de firmas que ele desgraçou. Em xeque os sonhos presidenciais do ex-juiz
Entrevista: Por que a frente ampla progressista deu certo em Belém? Edmilson Rodrigues, o eleito, explica.
Maradona: No mundial de 1994, vítima da gangue da Fifa, formada por Havelange, Teixeira e Blatter, empenhados em favorecer o Brasil.
Leia mais em Carta Capital.