Bispos do Sínodo da Amazônia dizem ser criminalizados 'como inimigos da pátria'
Carta encomendada pelo cardeal Dom Cláudio Hummes rebate acusações do governo de Jair Bolsonaro.

A Igreja Católica afirmou nesta sexta-feira (30) lamentar que os bispos envolvidos no Sínodo da Amazônia sejam “criminalizados" e tratados como "inimigos da pátria". Eles decidiram escrever uma carta para rebater acusações do governo Jair Bolsonaro e de alas conservadoras do clero, que veem na pauta do Sínodo ameaças à soberania nacional.
“Lamentamos imensamente que hoje, em vez de serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como inimigos da pátria”, protestaram na carta, publicada após três dias de reuniões a portas fechadas na capital do Pará. Cerca de 120 religiosos católicos participaram do encontro de estudos preparatórios da assembleia de bispos marcada para outubro, em Roma.
A carta foi encomendada pelo cardeal dom Cláudio Hummes, nomeado pelo papa Francisco como relator do Sínodo e porta-voz do pontífice para o tema, para desfazer o que os bispos consideram visões distorcidas sobre as intenções do Vaticano. Na única entrevista que deu após sua nomeação, d. Cláudio disse que o papa quer "pressionar" os governos locais a agir, entre eles o Estado brasileiro, e defende a participação de outros países também afetados pelas queimadas "criminosamente provocadas", nas palavras da Igreja.
Bolsonaro já se demonstrou refratário à ideia. Além da desconfiança da ala militar quanto aos objetivos do Vaticano, ele não aceitou todas as ofertas de ajuda - financeira ou material - que chegaram ao País por vias diplomáticas, entre elas US$ 20 milhões articulados pela França.
O presidente mandou a Polícia Federal investigar a autoria dos incêndios, depois de lançar, sem provas, suspeitas sobre o envolvimento de organizações não-governamentais. A apuração foi determinada depois de reportagens apontarem que houve incêndios provocados por pelo menos um movimento organizado de fazendeiros, anunciado no Pará como "dia do fogo" e não debelado a tempo pelo poder público.
A carta final do encontro dos bispos da Amazônia reitera que o Vaticano defende a soberania brasileira sobre seu território amazônico. "A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro a respeito deste macro-bioma que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário. Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na preservação da Amazônia, porque desta macrorregião depende a sobrevivência dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente."