Sem Bolsonaro e com Doria, Fórum Mundial de Davos destaca Amazônia e covid-19
Evento, que este ano é online, terá a participação do vice-presidente Hamilton Mourão, que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal.

De olho em temas como combate à covid-19, vacinação e conservação da
Amazônia, a edição online do Fórum Econômico Mundial não deve contar com
participação do presidente Jair Bolsonaro. Na programação, a maior
autoridade brasileira prevista é o vice-presidente Hamilton Mourão, que
comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal. O evento, chamado de
"Davos Agenda", começa nesta segunda-feira (25).
Bolsonaro tem sido alvo de críticas de organismos internacionais pela
atuação do governo brasileiro no combate à pandemia do novo coronavírus e
também por sua política ambiental. Neste mês, com o colapso do sistema
de saúde em Manaus devido à falta de oxigênio para pacientes com a
doença e outros, a gestão da crise entrou na mira da Organização Mundial
da Saúde (OMS).
O diretor executivo da OMS, Mike Ryan, chegou a alertar para a situação
na capital do Amazonas e disse, em 15 de janeiro, que é "muito fácil"
jogar a responsabilidade da crise sobre a nova variante do vírus
encontrada na região. "Nós precisamos ser capazes de aceitar, como
indivíduos, como comunidades e governos, nossa parte da responsabilidade
para o vírus sair do controle", afirmou na ocasião.
No último sábado, 23, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, virou alvo
de um pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República,
Augusto Aras, para verificar se houve omissão do titular da pasta no
combate à crise em Manaus. Na representação, o procurador cita o fato de
a Saúde ter enviado medicamentos sem eficácia comprovada como resposta
ao colapso iminente na capital do Amazonas.
A programação do "Davos Agenda" dedica boa parte dos painéis a
discussões sobre a resposta dos países à crise provocada pela pandemia e
seus impactos na economia, no sistema de saúde, na educação e na
desigualdade. Líderes de países como Alemanha, França, China e Japão,
além de ministros de Saúde, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, e
o CEO da Pfizer, farmacêutica que desenvolveu uma das vacinas contra
covid-19, devem falar no evento, entre outras autoridades e
representantes de bancos e multinacionais influentes na economia global.
Um dos painéis, sobre como repensar as cidades no pós-pandemia, terá a
participação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que tem se
colocado como contraponto a Bolsonaro na gestão da crise da covid-19,
principalmente na corrida pela vacina. Doria lançou a campanha de
vacinação no último dia 17 com a CoronaVac, produzida pelo Instituto
Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac, enquanto o governo brasileiro
ainda trabalhava para importar doses da vacina produzida por
Oxford/AstraZeneca.
Pelo governo federal, a maior autoridade é o vice-presidente Hamilton
Mourão, que integrará um painel sobre como financiar a transição da
Amazônia para uma bioeconomia sustentável. O evento está previsto para
quarta-feira (27). Questionado sobre a ausência de Bolsonaro na
programação, o Palácio do Planalto não respondeu.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, participa na sexta, 29, de uma
discussão sobre como restaurar o comércio internacional após os impactos
da pandemia, que levaram a uma queda de 9% na troca de mercadorias e
serviços entre os países.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, integrará uma mesa
com ministros de outros países para debater questões cruciais que
requerem coordenação internacional urgente em 2021. Tópicos citados
pelos organizadores na descrição desse painel incluem a covid-19 e as
mudanças climáticas - o governo brasileiro, porém, adota postura que
minimiza os efeitos do clima, e o presidente já se referiu ao tema como
"jogo comercial".
Já a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, participa de um debate
sobre como destravar inovações para transformar sistemas alimentares.
Esse é o segundo ano que Bolsonaro desiste de participar do fórum. Em
janeiro de 2020, o presidente cancelou a ida ao evento, realizado na
Suíça, devido a "uma série de aspectos", entre eles a segurança e a
política. Pouco tempo antes, as tensões entre Estados Unidos e Irã se
acirraram após os americanos matarem o poderoso general iraniano Qassem
Suleimani. À época, o governo brasileiro negou relação entre o
cancelamento e o episódio internacional.
A organização do Fórum Econômico Mundial prevê uma edição presencial do evento em maio, em Cingapura.