Dia da Árvore: desmatamento vem caindo, mas ainda há desafios
Diminuição, entretanto, ainda é desigual entre os estados do Brasil.

Detentor da maior biodiversidade de árvores do planeta, com cerca de
14% das mais de 60 mil espécies, o Brasil tem visto a redução do
desmatamento em diversos biomas. Essa diminuição, no entanto, ainda é
desigual entre os estados e há desafios importantes para garantir a
conservação da flora, afirmam autoridades e especialistas no assunto.
As florestas são base para a preservação da biodiversidade, dando
equilíbrio aos ecossistemas. Além disso, estão relacionadas à situação
de rios e ao abastecimento de água, necessárias à agricultura, indústria
e ao consumo humano e desempenham papel fundamental na manutenção das
temperaturas.
O Brasil tem seis biomas: Caatinga, Pampa, Pantanal, Mata Atlântica,
Cerrado e Amazônia. Nos três últimos, a medição dos índices de
desmatamento é mais estruturada e ocorre há mais de dez anos. Nesses
grupos, a derrubada de matas tem caído nos últimos 15 anos. “Nós
reduzimos o desmatamento em todos os biomas, mas ainda há muito o que
fazer. Nossa decisão é chegar a zero de desmatamento ilegal em todos os
biomas. Não precisamos desmatar diante das terras no Brasil”, disse o
ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte.
Amazônia
A Amazônia é um exemplo desse fenômeno. Segundo o monitoramento do
Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), entre 2004 e 2017 a taxa
anual de derrubada de matas na Amazônia Legal caiu 75%, saindo de 27,7
mil quilômetros quadrados (km²) para 6,9 mil. A Amazônia Legal inclui
áreas nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, de Mato Grosso, do
Pará, Rondônia, de Roraima e do Tocantins.
No movimento histórico, houve queda das taxas entre 2004 e 2012. A
partir de 2013, a área desmatada passa a oscilar, subindo e descendo. O
índice de 2017 (6,9 mil km²) ainda foi superior ao menor da série
histórica, registrado em 2012 (4,5 mil).
Cerrado
O desmatamento no Cerrado também teve queda nos últimos anos. De acordo com Inpe, entre 2001 e 2017 ele diminuiu cerca de 75%, indo de 29,4 mil km² para 7,4 mil km² ao ano. Assim como na Amazônia, a trajetória descendente foi até 2012, subindo consideravelmente em 2013 e oscilando até 2017.
Fazem parte do bioma o Distrito Federal e os estados da Bahia, de Goiás,
do Maranhão, de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, do
Piauí, Paraná, de Rondônia, São Paulo e do Tocantins.
Há diferença entre os estados, assim como no bioma amazônico. No
acumulado de área desmatada entre 2001 e 2017, Minas Gerais lidera com
44,3 mil km², seguido por Goiás (44,2 mil km²) e Mato Grosso (44,5 mil
km²). As unidades da Federação com menor área desflorestada no período
foram Rondônia (169 km²), Paraná (221 km²) e o Distrito Federal (356
km²).
Mata Atlântica
Na Mata Atlântica, as taxas anuais de desmatamento caíram 89% entre 1985 e o período 2016-2017. No início da medição, a área desmatada anualmente chegava a 107,2 mil hectares quadrados (ha²) para 12,5 mil ha². Em relação ao período anterior, 2015-2016, a redução foi de 56,8%. Entretanto, o histórico de exploração deixou apenas 12% da área de mata nativa original.
A trajetória histórica das taxas de desflorestamento mostra uma oscilação maior do que nos demais biomas. As taxas saíram de 107,2 mil nos anos 1980 e sofreram queda no período 2008-2010, quando atingiram 14 mil ha² ao ano. A partir daí, houve alternâncias, chegando a 29 mil ha² no período 2015-2016.
No recorte por estados, o quadro é bem diferente. Sete unidades da Federação chegaram ao desmatamento zero. Espírito Santo e Ceará derrubam menos de 10 ha² por ano, índice também considerado baixo. Entre os períodos 2017-2016 e 2016-2015, houve quedas expressivas, como em São Paulo (-97%), Bahia (-67%) e Minas Gerais (-58%). Já Alagoas e Pernambuco foram na contramão, com aumentos de 2.243% e 2.121%, respectivamente.
Na avaliação da diretora executiva da organização SOS Mata Atlântica,
Marcia Hirota, o bioma já tem uma área remanescente pequena perto da
mata nativa original, que deve ser preservada. Não podemos permitir é
que a exploração econômica aconteça em áreas de florestas nativas, que o
pouco do que resta de Mata Atlântica seja o indutor de desenvolvimento.
Sabemos que é possível conciliar desenvolvimento com proteção dessas
áreas e recuperação da floresta onde é necessário”, disse.
Unidades de conservação
Uma das estratégias de preservação é a criação de unidades de
conservação (UCs). Atualmente, há 335 unidades federais desse tipo,
segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). Em abril deste ano, foram instuídas cinco novas unidades de
conservação - três reservas extrativistas no Maranhão e duas em área de
Caatinga. Em março, quatro unidades em áreas marinhas já haviam sido
criadas. Em 5 de junho, Dia Nacional do Meio Ambiente, mais três
unidades foram criadas - duas na Bahia e uma no Amazonas.
A área continental protegida soma 789,6 mil km². Em 2017, essas unidades
receberam 10,7 milhões de visitantes. De acordo com o ICMBio, 57,2 mil
famílias são beneficiadas por UCs de uso sustentável.
Segundo Silvia Futada, integrante do programa de monitoramento de áreas
protegidas do Instituto Socioambiental (ISA), as unidades de conservação
são fundamentais para preservar a vegetação nativa, mas enfrentam
problemas como orçamento reduzido, equipes insuficientes e pouca
estrutura.
“Os sistemas de áreas protegidas vêm sendo alvo de ataques do
Legislativo e do Executivo. Em Rondônia, por exemplo, houve redução de
quase 1,5 milhão de hectares, sendo mais de 1 milhão de áreas
florestadas. Tivemos a criação de nove unidades de conservação. Poucos
dias após os decretos, eles foram revogados pela Assembleia Legislativa
do estado”, diz a pesquisadora do ISA.
Recuperação
Na avaliação do diretor de florestas e combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Jair Schmidt, além de criar obstáculos ao desmatamento um desafio é recuperar a vegetação nativa. Em 2017, foi aprovado um plano nacional com ações nesse sentido. Foi estabelecida a meta de recuperar 12 milhões de hectares até 2030.
“Não basta conter o desmatamento, temos que recuperar o que foi desmatado. É um desafio grande, mas necessário, para que o Brasil contribua na redução do aquecimento global, mantenha a biodiversidade e ajude para evitar problemas críticos de abastecimento e secas”, comentou.
Ativismo
Se os índices de desmatamento foram reduzidos sensivelmente nos últimos anos, a segurança dos ativistas comprometidos com essa causa é outro desafio importante. Segundo relatório lançado pela organização não governamental (ONG) britânica Global Witness, divulgado em julho deste ano, o Brasil foi o país mais perigoso para ambientalistas e defensores da terra em 2017. A ONG registrou 57 assassinatos no país no ano passado. O Brasil foi seguido pelas Filipinas (48), a Colômbia (24) e o México (15).
Em nota, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República contestou o relatório, afirmando que ele apresenta dados equivocados, frágeis e obtidos por metodologia duvidosa, em que uma morte atribuida por investigação policial ao tráfico de drogas, por exemplo, é transformada em resultado de conflito agrário.
A nota do governo brasileiro diz ainda que a ONG britânica saberia, se tivesse consultado fontes oficiais, que seis pessoas contabilizadas como defensoras da terra, foram assassinadas em disputa de tráfico de drogas na localidade no distrito de Lençois, na Bahia.