Nando Reis faz live neste Dia dos Namorados
Terceira apresentação do artista neste formato acontece às 19h, em seu canal do YouTube.

Passar a quarentena numa casa de família em Jaú, a 300 quilômetros de
São Paulo, tem servido para mitigar o desalento de Nando Reis com o
noticiário. Cria da selva de concreto, é no mato que ele vem encontrando
ocasiões para ocupar a cabeça. Em uma ligação nesta semana com a
reportagem, mugidos de vacas foram trilha sonora para uma entrevista em
que o cantor e compositor refletiu sobre o País e sobre como ele e sua
arte podem se encaixar no momento.
"Estou aqui há três meses", diz Nando. "Foi uma gangorra de sensações,
entre momentos de tranquilidade, apreensão, entusiasmo, aflição,
simplesmente contemplação… Fiquei angustiado, fiquei feliz…
Curiosamente, o trabalho para a primeira live foi o que me pôs de novo
com mais disciplina para trabalhar. Fiquei um tempão sem sequer abrir o
violão, mas quando peguei fui me acostumando, sentindo prazer com aquilo
de novo. Foi numa dessas que compus uma canção bonita, que pretendo
gravar."
Nando Reis faz sua terceira live do período nesta sexta-feira (12), Dia dos Namorados, às 19h, em seu canal do YouTube. A apresentação abre um
"minifestival do amor, à distância", que terá também, mais tarde, Duda
Beat e Anavitória - um EP de Nando com a dupla, gravado num show em 2018
em São Paulo, também chega às plataformas de streaming no mesmo dia. "É
engraçado que ter um tempo livre pode pressupor que seja um momento
adequado para produzir e fazer", diz o cantor. "Mas a questão funciona
de maneira mais insondável, mais misteriosa. A própria pressão funciona
mal."
O formato de lives foi uma das alterações que a pandemia trouxe para o
meio musical, e ele também teve de se adaptar, mas conta que o trabalho
no canal do YouTube, anterior a tudo isso, ajudou a entender melhor o
processo de se comunicar com as pessoas de maneira remota. O fato de
sentar-se num banquinho e tocar um violão foi o que sempre fez, afinal. A
real novidade é o alcance de cada live, que pode reunir centenas de
milhares de pessoas em todos os cantos. "Tudo o que faço trabalha com a
linguagem, a canção tem que se conectar com o veículo e a forma causa um
efeito também."
Apesar de estar isolado, Nando tem a companhia dos filhos e de outras
pessoas na casa, e acompanhar o noticiário - desalentador, nas suas
palavras - se torna inevitável. "Também preciso me cuidar, porque só de
ler o nome do presidente me dá um ódio, isso faz um mal tremendo." A
canção, então, pode ir na contramão desses sentimentos.
"A cada dia se inventa uma crise, há uma tensão, um desgaste no qual
evidentemente a canção é um conforto e pode agir como um bem-estar, no
sentido de atender a terminais dos anseios das pessoas que não se
resumem só à aversão a isso tudo que está acontecendo. É um desgaste tão
grande porque eu me proponho a entrar num outro âmbito das coisas, que
no fim são as coisas pelas quais a gente luta, justiça, felicidade."
Um de seus filhos, Sebastião, também participará da apresentação ao
vivo. Em 2002, Nando lançou com os Titãs O Mundo É Bão, Sebastião. "Por
que o Sol saiu / Por que seu dente caiu / Por que essa flor se abriu /
Por que iremos viajar no verão/ Por que aqui o mundo não será cão",
cantava, antes de entrar no refrão e repetir a mensagem otimista para o
filho. A percepção mudou, quase 20 anos depois?
"A canção é de esperança, e acho que se aplica bem inclusive em tempos
sombrios, como este que estamos vivendo. Embora feita para uma criança,
está longe de ser negacionista (risos). É uma forma lúdica de dizer que o
'bão' é uma forma de como fazer, e como faremos. Faz sentido ter
consciência do quão ruim a situação pode estar".