China lança missão ambiciosa para trazer rochas lunares à Terra
Lançamento da espaçonave ocorreu na base espacial de Wenchang, na ilha tropical chinesa de Hainan.

A China lançou uma missão ambiciosa para trazer material da superfície
da lua pela primeira vez em mais de 40 anos - um empreendimento que
poderia aumentar a compreensão humana sobre as origens da Lua e do
sistema solar em geral. Uma sonda espacial, a Chang'e 5, decolou na
madrugada de terça-feira (24), na China (tarde ontem no
Brasil) para coletar rochas e outras amostras da Lua e transportá-las à
Terra.
O lançamento da espaçonave ocorreu na base espacial de Wenchang, na ilha
tropical chinesa de Hainan, às 4h30 de terça (horário chinês), quando o
foguete Longa Marcha-5 que transporta a sonda saiu da plataforma.
Nome em homenagem à antiga deusa chinesa da Lua, a Chang'e 5 pesa oito
toneladas e é composta de quatro módulos, que se encarregarão
respectivamente da órbita em torno ao satélite, da alunissagem, da
decolagem lunar e do retorno à Terra.
A viagem é outro marco na ascensão lenta, mas constante da potência
asiática até as estrelas. A China se tornou o terceiro país a colocar
uma pessoa em órbita há 17 anos e o primeiro a pousar no outro lado do
Lua em 2019. As ambições futuras incluem uma estação espacial permanente
e colocar novamente pessoas na Lua mais de 50 anos depois que o feito
foi realizado pelos Estados Unidos.
"A China estabelecerá suas metas de desenvolvimento na indústria
espacial com base em suas próprias considerações de ciência e tecnologia
de engenharia", disse Pei Zhaoyu, vice-diretor do Centro de Exploração
Lunar e Engenharia Espacial da Administração Espacial Nacional da China,
pouco antes do lançamento.
Missão
"Não colocamos rivais ao definir essas metas", disse Pei. A China tem um
plano nacional com o objetivo de se juntar aos Estados Unidos, à Europa
e ao Japão nas primeiras posições dos produtores de tecnologia, e o
programa espacial tem sido um componente importante disso. Também é uma
fonte de orgulho nacional para levantar a reputação do Partido Comunista
no poder
O que está claro é que a abordagem cautelosa e progressiva da China tem
obtido sucesso após sucesso desde que colocou uma pessoa no espaço pela
primeira vez em 2003, juntando-se à ex-União Soviética e aos Estados
Unidos. Isso foi seguido por mais missões tripuladas, o lançamento de um
laboratório espacial, a colocação de um rover no lado distante
relativamente inexplorado da Lua e, este ano, uma operação para pousar
em Marte.
Se a missão for concluída conforme planejada, a China será o terceiro
país a obter amostras lunares, juntando-se aos Estados Unidos e à União
Soviética em missões realizadas nas décadas de 1960 e 1970.
A principal tarefa da missão é perfurar 2 metros na superfície da Lua e
recolher cerca de 2 quilos de rochas e outros detritos. "Esta é a
primeira missão não tripulada de coleta de amostras e retorno da Lua",
afirmou Zhaoyu, em declarações feitas à televisão estatal chinesa. "Este
trabalho é mais complicado do que pegar à mão amostras do solo lunar."
Conforme o jornal espanhol El País, se a missão for bem-sucedida,
o módulo de alunissagem chegará a um ponto até agora inexplorado do
lado mais próximo da Lua, nas proximidades do monte Rümker, uma área
vulcânica a 1.300 metros de altitude na região conhecida como Oceanus
Procellarum (Oceano das Tempestades), uma vasta planície de lava escura
visível da Terra A operação durará um dia lunar, equivalente a duas
semanas terrestres; não pode se prolongar já que o frio da noite no
satélite, com temperaturas que chegam a 170°C abaixo de zero, pode
afetar o funcionamento dos delicados mecanismos do artefato espacial. O
módulo de regresso armazenará as amostras. A sonda está programada para
aterrissar na Terra no começo de dezembro em um ponto da província
chinesa da Mongólia Interior.
"Bem-sucedida, a missão seria um feito impressionante para qualquer
nação", disse o especialista da Flórida Stephen Clark, na publicação Spaceflight Now. No twitter, foi publicado vídeo do momento da decolagem da missão.
A China se orgulha de chegar a este ponto em grande parte por meio de
seus próprios esforços, embora a Rússia tenha ajudado desde o início com
o treinamento de astronautas e a cápsula espacial Shenzhou da China
seja baseada na russa Soyuz. Embora tenha havido colaboração com algumas
outras nações, notadamente aquelas pertencentes à Agência Espacial
Europeia, que forneceram suporte de rastreamento para missões chinesas,
os Estados Unidos não são um deles.
A lei dos EUA exige a aprovação do Congresso para cooperação entre a
Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) e o programa militar da
China. Disputas políticas e econômicas em andamento, notadamente
acusações de que a China rouba ou força a transferência de segredos
comerciais confidenciais, parecem diminuir as perspectivas de laços mais
estreitos. O programa espacial da China às vezes foi visto como uma
recriação de conquistas anteriores alcançadas principalmente por EUA e
ex-União Soviética.
A missão, que estava prevista para 2017, precisou ser adiada por uma
falha no foguete Longa Marcha. Desta vez, os especialistas acreditam que
o material obtido ajudará a esclarecer como a Lua evoluiu.
Ainda segundo o El País, até agora se acreditava que a atividade
vulcânica do satélite acabou há 3,5 bilhões de anos, ainda que algumas
observações mais recentes da superfície lunar indiquem que talvez o
núcleo do satélite tenha se mantido ativo até somente um ou dois bilhões
de anos. A China investiu bilhões de euros no desenvolvimento de seu
programa espacial, que considera um dos pilares de seu plano para se
transformar em uma grande potência econômica e diplomática nas próximas
décadas. Desde que enviou em 2003 seu primeiro astronauta ao espaço, se
propôs a levar uma missão tripulada à Lua na próxima década e espera
montar uma estação espacial até 2022. O sucesso da Chang'e 5 também pode
abrir o caminho a futuras explorações semelhantes de ida e volta a
planetas como Marte.
Questionado sobre quando a China planeja colocar astronautas na Lua, Pei
disse que qualquer decisão seria baseada nas necessidades científicas,
bem como nas condições técnicas e econômicas. "Eu acho que as futuras
atividades de exploração lunar devem ser realizadas por uma combinação
de homem e máquina", afirmou. Segundo ele, uma meta no futuro é
construir uma estação lunar internacional de pesquisa que possa fornecer
suporte de longo prazo para atividades de exploração científica na
superfície lunar.
Passagem do foguete pelo céu é registrada no País
Internautas relataram ainda na segunda-feira nas redes sociais a
passagem da Chang'e 5 pelo céu no Brasil. O registro foi feito
principalmente por moradores de cidades da Bahia, Ceará e Piauí, que se
surpreenderam com a 'nuvem brilhante' como alguns chamaram o foguete.