A preguiça poética de Juvenal Antunes
Juvenal Antunes nasceu em Ceará-Mirim, no século XIX, tendo como irmã a escritora memorialista Madalena Antunes Pereira. Entretanto, foi no Acre que viveu a maior parte de sua vida adulta, ocupando o cargo de promotor público. Juvenal é dono de uma biografia curiosa, pois passava seus dias vestido de chambre, a declamar poemas em homenagem a sua amada Laura, com quem teria vivido um romance clandestino. Existe uma estátua em homenagem ao poeta na calçada do antigo hotel onde residia e vivia de farras pagas “no fiado”.
Em 2006, a Globo exibiu a série “Amazônia: de Galvez a Chico Mendes”, na qual o personagem de Antunes foi interpretado com muita competência pelo ator Diogo Vilela, em cenas inesquecíveis.
Dedicado ao próprio Juvenal, o “Elogio da preguiça” é o mais famoso de seus poemas, em que exalta o ócio, desconstrói verdades estabelecidas e confronta o senso comum. Vejamos alguns trechos:
Bendita sejas tu, preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!
(...)
Lá está, na Bíblia, esta doutrina sã:
- Não te importes com o dia de amanhã.
Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Ó sábios, dai à luz um novo invento:
- A nutrição ser feita pelo vento!
(...)
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?
(...)
Ó Laura, Tu te queixas que eu, farsista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,
Que me não faças mais essa injustiça!...
Se ontem não fui te ver – foi por preguiça.
Desfrutemos, pois, da irreverente poesia do boêmio inolvidável, como o chamou Esmeraldo Siqueira...